Dance com ela
Um câncer levou Pina Bausch, aos 68 anos. Fica a imagem da alemã que revolucionou a linguagem da dança moderna
Um câncer levou Pina Bausch, aos 68 anos. Fica a imagem da alemã que revolucionou a linguagem da dança moderna
SAYONARA PEREIRA
O nome da bailarina e coreógrafa alemã Pina (Philippine) Bausch, que nasceu na cidade de Solingen em 1940, foi sempre associado diretamente a sua condição de criadora e mentora da dança teatral contemporânea. Suas peças coreográficas têm sido apresentadas nos quatro cantos do mundo, para plateias deslumbradas, e sua obra já foi analisada por vários pesquisadores, em prosa e verso. Fotógrafos lhe dedicaram livros de fotos; documentários e filmes foram rodados sobre esta brilhante coreógrafa e seu maravilhoso e diversificado Ensemble sediado na cidade de Wuppertal, na Alemanha.Poucos são os coreógrafos capazes de tocar profundamente a alma humana com suas criações, Pina Bausch encontra-se neste seleto grupo que consegue trazer para a cena situações cotidianas, questões que emergem dos sentimentos mais densos do homem, apresenta-os com uma caligrafia única e cria momentos de poesia.A temática abordada pela dança teatral de Pina Bausch, ao longo de mais de três décadas, manteve sempre a mesma essência. Somente a ótica, pela qual os temas são tratados, modificaram-se sutilmente, talvez como o estado de ânimo do homem contemporâneo, que mesmo com todos os progressos tecnológicos ainda se emociona com os mesmos temas: amam, sentem medo, são solitários e sentem saudades.Pina foi aluna de Kurt Jooss (1901-1979), coreógrafo alemão e fundador do departamento de dança da Folkwang Hochschule na cidade de Essen – Alemanha, escola onde Bausch fez grande parte de sua formação e deu início as suas criações.Com Jooss, Bausch aprendeu sinceridade, e a lapidar as qualidades já existentes nos corpos dos intérpretes-colaboradores que vieram a protagonizar as suas 49 peças ao longo desta fértil trajetória criativa.Bausch flexibilizou e alargou todos os conceitos relativos à dança cênica existente, e podemos dizer que seu trabalho é um “divisor de águas” entre o que existia até a década de 70 e o que passou a existir a partir de então.As cenas desenvolvidas em suas peças coreográficas foram situadas em lugares muitas vezes ecléticos como: um campo de cravos (Nelken, 1982); uma reunião de pessoas, em volta de uma mesa, todos com água até a altura dos tornozelos (Arien, 1979 ), tendo um hipopótamo como convidado; em uma sauna (Nefés, 2003). onde ao longo da peça bolhas de água brotam do chão. São incontáveis os lugares inusitados que somos convidados a passar e conhecer.Suas peças coreográficas, compostas de uma gama de associações, de pequenas histórias, trazidas por seus intérpretes, muitas vezes autobiográficas, conseguem estabelecer ligações com as nossas próprias histórias. E esta proximidade nos dá oportunidade de rirmos de nossa própria solidão ou chorarmos por uma cena que nos remeteu de volta às lembranças longínquas de nossa infância.Pina Bausch introduziu o uso da palavra na cena a partir dos anos 1980 e sabia lidar, de forma brilhante com códigos estabelecidos a partir do gesto e da voz, responsáveis não só pela performance do espetáculo, como também pela linguagem, expressividade e estética cênica .Seus espetáculos sempre deixaram o público muito curioso, emocionado, próximo e tocado verdadeiramente por todas aquelas imagens belas, sensíveis, surreais ou grotescas presentes em sua obra.Bausch sempre se interessou em observar pessoas e seus respectivos comportamentos, por todos os lugares do mundo por ande andou, importando-se com o que move as pessoas e não como elas se movem.Achava ótimo que a dança não fosse apenas bonita ou simpática, mas que tivesse a ver com cada um de nós, com os nossos sentimentos, com as nossas aspirações e com o nosso sofrimento.Bailarinos muito maduros, integram o seu Ensemble e, cenicamente, com suas movimentações muitas vezes reduzidas, mas sempre precisas, sensíveis, e humanas chegam muito perto dos sentimentos das pessoas que estão sentadas na plateia.Com movimentos de braços, do torço e do plexo inigualáveis, seus intérpretes conseguem dosar, de maneira mais adequada possível, seus limites físicos, oferecendo os ingredientes para que o público trafegue dentro de seus medos, suas descobertas, seus chistes como partners.Pina Bausch faleceu na última quarta-feira, dia 30, em Wuppertal, cidade industrial e muito cinza, que abrigou seu elenco e todas as suas ideias inigualáveis ao longo das últimas quase quatro décadas. Sua perda inesperada será sentida por todas as pessoas próximas e por todo o público que esta criadora quase tímida, lânguida, que com seus olhos de um azul profundo, cativou por todos os lugares em que passou.O público porto-alegrense conheceu seu trabalho em 1980 (Sagração da Primavera -1975) e se maravilhou em 2006 com a obra Para as Crianças de Ontem, Hoje e Amanhã (2002), que foi apresentado no Porto Alegre em Cena.* Doutora em Artes pela UNICAMP-SP, e professora na mesma universidade. Bailarina, coreógrafa, pesquisadora, pedagoga em dança licenciada pela Hochschule Für Musik Köln, na Alemanha. Convidada pela bailarina e coreógrafa alemã Susanne Linke, estudou na Folkwang Hochschule(1985), escola dirigida por Pina Bausch, localizada em Essen, Alemanha, cidade onde também viveu e atuou profissionalmente entre 1985-2004.
O nome da bailarina e coreógrafa alemã Pina (Philippine) Bausch, que nasceu na cidade de Solingen em 1940, foi sempre associado diretamente a sua condição de criadora e mentora da dança teatral contemporânea. Suas peças coreográficas têm sido apresentadas nos quatro cantos do mundo, para plateias deslumbradas, e sua obra já foi analisada por vários pesquisadores, em prosa e verso. Fotógrafos lhe dedicaram livros de fotos; documentários e filmes foram rodados sobre esta brilhante coreógrafa e seu maravilhoso e diversificado Ensemble sediado na cidade de Wuppertal, na Alemanha.Poucos são os coreógrafos capazes de tocar profundamente a alma humana com suas criações, Pina Bausch encontra-se neste seleto grupo que consegue trazer para a cena situações cotidianas, questões que emergem dos sentimentos mais densos do homem, apresenta-os com uma caligrafia única e cria momentos de poesia.A temática abordada pela dança teatral de Pina Bausch, ao longo de mais de três décadas, manteve sempre a mesma essência. Somente a ótica, pela qual os temas são tratados, modificaram-se sutilmente, talvez como o estado de ânimo do homem contemporâneo, que mesmo com todos os progressos tecnológicos ainda se emociona com os mesmos temas: amam, sentem medo, são solitários e sentem saudades.Pina foi aluna de Kurt Jooss (1901-1979), coreógrafo alemão e fundador do departamento de dança da Folkwang Hochschule na cidade de Essen – Alemanha, escola onde Bausch fez grande parte de sua formação e deu início as suas criações.Com Jooss, Bausch aprendeu sinceridade, e a lapidar as qualidades já existentes nos corpos dos intérpretes-colaboradores que vieram a protagonizar as suas 49 peças ao longo desta fértil trajetória criativa.Bausch flexibilizou e alargou todos os conceitos relativos à dança cênica existente, e podemos dizer que seu trabalho é um “divisor de águas” entre o que existia até a década de 70 e o que passou a existir a partir de então.As cenas desenvolvidas em suas peças coreográficas foram situadas em lugares muitas vezes ecléticos como: um campo de cravos (Nelken, 1982); uma reunião de pessoas, em volta de uma mesa, todos com água até a altura dos tornozelos (Arien, 1979 ), tendo um hipopótamo como convidado; em uma sauna (Nefés, 2003). onde ao longo da peça bolhas de água brotam do chão. São incontáveis os lugares inusitados que somos convidados a passar e conhecer.Suas peças coreográficas, compostas de uma gama de associações, de pequenas histórias, trazidas por seus intérpretes, muitas vezes autobiográficas, conseguem estabelecer ligações com as nossas próprias histórias. E esta proximidade nos dá oportunidade de rirmos de nossa própria solidão ou chorarmos por uma cena que nos remeteu de volta às lembranças longínquas de nossa infância.Pina Bausch introduziu o uso da palavra na cena a partir dos anos 1980 e sabia lidar, de forma brilhante com códigos estabelecidos a partir do gesto e da voz, responsáveis não só pela performance do espetáculo, como também pela linguagem, expressividade e estética cênica .Seus espetáculos sempre deixaram o público muito curioso, emocionado, próximo e tocado verdadeiramente por todas aquelas imagens belas, sensíveis, surreais ou grotescas presentes em sua obra.Bausch sempre se interessou em observar pessoas e seus respectivos comportamentos, por todos os lugares do mundo por ande andou, importando-se com o que move as pessoas e não como elas se movem.Achava ótimo que a dança não fosse apenas bonita ou simpática, mas que tivesse a ver com cada um de nós, com os nossos sentimentos, com as nossas aspirações e com o nosso sofrimento.Bailarinos muito maduros, integram o seu Ensemble e, cenicamente, com suas movimentações muitas vezes reduzidas, mas sempre precisas, sensíveis, e humanas chegam muito perto dos sentimentos das pessoas que estão sentadas na plateia.Com movimentos de braços, do torço e do plexo inigualáveis, seus intérpretes conseguem dosar, de maneira mais adequada possível, seus limites físicos, oferecendo os ingredientes para que o público trafegue dentro de seus medos, suas descobertas, seus chistes como partners.Pina Bausch faleceu na última quarta-feira, dia 30, em Wuppertal, cidade industrial e muito cinza, que abrigou seu elenco e todas as suas ideias inigualáveis ao longo das últimas quase quatro décadas. Sua perda inesperada será sentida por todas as pessoas próximas e por todo o público que esta criadora quase tímida, lânguida, que com seus olhos de um azul profundo, cativou por todos os lugares em que passou.O público porto-alegrense conheceu seu trabalho em 1980 (Sagração da Primavera -1975) e se maravilhou em 2006 com a obra Para as Crianças de Ontem, Hoje e Amanhã (2002), que foi apresentado no Porto Alegre em Cena.* Doutora em Artes pela UNICAMP-SP, e professora na mesma universidade. Bailarina, coreógrafa, pesquisadora, pedagoga em dança licenciada pela Hochschule Für Musik Köln, na Alemanha. Convidada pela bailarina e coreógrafa alemã Susanne Linke, estudou na Folkwang Hochschule(1985), escola dirigida por Pina Bausch, localizada em Essen, Alemanha, cidade onde também viveu e atuou profissionalmente entre 1985-2004.
Dica do André: Quem puder leia o texto que Caetano Veloso escreveu no Estadão sobre a coreógrafa. Muito singelo.
Um comentário:
ola andre.pois havia pensado em te enviar o texto. então que otimo saber que o texto vai passando, e ficando.....assim como pina bausch & suas belas imagens ficarão para sempre ,de alguma maneira, na vida de cada um de nos. obrigada por fazer uso do texto. abração dançante pra voce da sayô
Postar um comentário